sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um lugar

Onde?
é dificil localizar.

 Penso que se soubessemos onde fica metade dos nosso problemas estariam resolvidos. Se tivessemos alguma ideia já ajudaria a seguir adiante. Mas e quando não se sabe? Pior! quando a gente acha que sabe e descobre que não era?

 As vezes acho que a sensação de estar perdido angustia mais do que qualquer outra coisa. Ora que fazer quando não se sabe pra onde se vai? Qual é o lugar que pertencemos? As pessoas lutam cotidianamente para ter um lugar, para sentir-se pertencentes a um lugar. Porém, há situações que colocam a prova o fato de se ter certeza de que  o encontramos e que nos estabelecemos nele.

 Veja o caso da garota que lutou a vida toda para achar o seu e, quando finalmente o encontrou, algo a fez crer que não pertencia mais àquele lugar. Ela se doeu. Se doeu porque achava que a tinham tirado do seu lugar, forçado ela a sair. Mas isso era bobagem! Ninguém pode fazer isso, a não ser que ela não lutasse para continuar lá.

 Bom, ela fazia essa avaliação. Mas também avaliava que já estava esgotada de brigar para se manter nele. O tempo passa e a vida muda e conhecemos outros lugares. Quem disse que as pessoas são o que elas escolhem estava certo.  Acredito que a dificuldade dela não era achar ou estar num lugar, mas se manter nele e encontrar outros. Era como se ela, a duras penas, encontrasse, se estabelecia, mas que não cuidava (sim! é preciso cuidar do lugar que se está).

 Ela me dizia que  só queria sentir que desejava estar num lugar tanto quanto esse gostaria de ser ocupado por ela. Me lembro que ela chorou quando disse isso. Consigo imaginar sua dor. Não acredito que possa haver dor maior que aquela que não pode ser reconhecida. Ela também não acreditava. Acho que foi por isso que ela chorou.

 O que se pode fazer nessa situação? abandonar tudo e partir pra procurar outros em que ela possa se estabelecer? - talvez acontecesse a mesma coisa que aconteceu nessa situação que narrei a pouco. -Lutar pra voltar ao lugar que lhe era de direito? - Não sei se ela teria forças para brigar por isso.

 Talvez ela não queira estar mais nesse lugar, mas tenha medo de admitir, pois isso sim a deixaria perdida. Não sei... Lugares não são, assim, tão descartáveis. Deixam marcas. Dizem quem a gente é.

 Me veio a cabeça uma frase: "vou me encontrar longe do meu lugar". É exatamente disso que ela precisa!!! se encontrar! Porque senão todos os lugares serão descartáveis e ela será descartável.

 Devo confessar que me dói saber que ninguém enxerga isso nela. Nem mesmo eu.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

o que resta?

 Pode-se dizer que ele estava perdido. Eu disse pode-se dizer. O fato é que ele se encontrava sentado no chão de sua sala, onde tinha apenas um velho sofá e uma tv em cima de dúzias de livros que nunca chegara a ler.

Roia as unhas. Pensava e agora? o que me resta? Ele que havia lutado por muito tempo para não se fazer essa pergunta. Se negava a responder, isso o obrigaria a rever tudo em sua vida, o que tinha pensado para sua vida e o que significava tudo aquilo para ele.

Não, ele não ia responder. Ele somente deixaria as coisas fluirem, seguirem seu caminho natural, sem que ele fizesse escolhas, sem que ele tomasse posições, sem que ele protagonizasse sua própria vida. Se perguntar sobre os caminhos era reconhecer que talvez sua vida não estivesse no seu controle. Faria com que ele revisse suas crenças, seus ideais, seu sonhos...

Ele que abdicara de sua familia para viver algo extraordinário, mas tão extraordinario que manter laços estreitos com seus familiares, significaria não poder ir mais além. Ele que achava fantástico mudar o grupo de amizades, pois as pessoas o cansavam, já que em algum momento sempre demandavam mais do que ele poderia dar (ou será o contrário?).

Agora estava sentado, encostado na parede, roendo as unhas. Mas não ia chorar! Isso nunca ajudou ninguém em nada! As vezes batia com sua cabeça na parede, como se por algum milagre sua cabeça rachasse e saisse pela rachadura todos os pensamentos que o atormentavam.

Fazendo um pequeno flashback de suas últimas experiências mostrava que ele era demasiadamente inseguro. Inseguro. E por isso que ele não ousaria perguntar novamente; "o que resta?"

sábado, 2 de julho de 2011

O que deseja uma mulher?

Ouvi um caso em que uma analista que tratava uma mulher de 35 anos, bem sucedida na carreira, que enfrentava uma crise financeira e estava a beira de uma crise profunda. Ela tentava sair dessa situação, mas não sabia bem por onde.
Eis que em uma das sessões, ela se vira para a paciente e questiona se ela não pensava em casar ter filhos, ao que a paciente responde de forma agressiva, chamando-a de preconceituosa e afirmando que o desejo da mulher não era somente de casar e ter filhos. A analista, então, pergunta: então, o que deseja uma mulher? A paciente encerra a sessão concordando que talvez o casamento e a maternidade poderiam ser o que uma mulher deseja.
Qual a dimensão disso? Qual impacto dessa afirmação na vida das mulheres? Estamos reduzidas a isso? Será que depois de casarmos e termos filhos não há mais nada? não há desejo?
Tudo que li sobre desejo na psicanálise me leva a crer que ele só aparece quando se reconhece uma falta. Todo mundo tem desejo, mas deixá-lo emergir não é tão simples assim... É preciso assumir que não somos perfeitos/as. Ora, se é isso, eu não posso me conformar com o fato de estar casada com filhos, porque, se for assim, depois de realizar esse desejo (quase que instintual),o resto da minha vida não terá mais sentido.
Não quero dizer com isso que desejar essas coisas é diminuto, mas sim que uma mulher pode querer mais, inclusive não querer nada disso. A questão posta pela analista pode parecer, num primeiro momento, querer legitimar o lugar das mulheres como esposas e mães, mas pra mim vai muito mais além...
Abre a possibilidade de questionar se é esse lugar que uma mulher quer estar. Bem, eu conheço uma porção delas que não pensam dessa forma. Se o que é esperado de uma mulher, na nossa sociedade, é necessariamente o único destino e a única felicidade garantida que ela terá, o que pensar dessas tantas outras que não querem essa vida, ou que, simplesmente, tem dúvidas sobre esse "destino"?
É evidente que o caminho mais fácil seria não pensar sobre isso e corresponder a demanda social, como também, uma vez não tendo se casado ou com filhos, ser fácil responder ao sofrimento causado pela angústia de uma mulher: bastaria dizer a ela para se entregar aos laços matrimoniais e se responsabilizar com a reprodução da espécie.
Nada romântico colocar nesses termos, mas acredito que faz parte da escolha individual compreender os fatos e significá-los de forma mais abrangente. Se alguém pode pensar que se unir a um homem e fazer um ritual que entenda essa união como sagrada (poética para alguns) e dessa união surgir uma criança que vai simbolizar todo amor que se há na vida, eu também posso pensar de outra forma. Posso pensar que casamento e constituir familia é uma norma burguesa que serve para sustentar o capitalismo.
A questão não é essa. Não estou preocupada em definir o lugar do casamento e da maternidade na vida das mulheres. Estou apenas refletindo sobre se é possivel afirmar que o desejo da mulher é tão simples de se descrever. Acredito que não. Me convenci de que se manter numa posição desejante é essencial para se viver. Isso significa afirmar que na minha vida, tenho outras possibilidades
O sentimento de incompletude é tão angustiante quanto excitante do ponto de vista de correr atrás para obter o seu contrário (mesmo quando haja dúvidas quanto ao que nos completa). Poder se deparar com um demanda realizada e perceber que não é o bastante nos leva a acreditar que vale a pena estar nesse mundo lutando por conquistas, mesmo que elas demorem para acontecer ou que tenha que se percorrer um caminha árduo. Isso que significa desejar.
Acho que no fundo o que eu tento dizer aqui é que desejar a liberdade de desejar é condição primordial para nós mulheres, pois pra nós isso ainda é uma luta que travamos todos os dias. Ninguém deveria nos dizer o que desejar, mas sim que desejemos! Não importa qual seja o desejo, não importa se não temos certeza de qual seria esse desejo...

sábado, 30 de abril de 2011

A morte de Dorotéia

Uma vez me disseram que escrever era bom. Podia-se fazer tudo com o ato de escrever: criar histórias, expressar uma opinião, defender uma posição. Mas o que mais me intrigou foi o fato dessa pessoa me dizer que se eu quisesse, em minha história, eu poderia até matar alguém. E não é que é verdade! Eu posso matar alguém em minhas histórias.

Queria matar Dorotéia. Queria que ela sofresse toda dor que me fez sentir. Eu que a amava, eu que a amava... Amava tanto quanto uma criança ama seu cobertor, cuidando e o mantendo por perto todo o tempo. E quando tinha de se separar era sempre uma agonia.

Era assim meu amor por Dorotéia. Eu queria cuidar dela, queria que ela fosse poupada de todos os males do mundo. Queria que ela ficasse ao meu lado em todos os momentos e, como se não bastasse, eu agia de forma que ela nunca tivesse dúvidas do quanto eu a amava.

Mas isso não bastou para Dorotéia, ela a quem dediquei minha devoção. De repente, minhas gentilezas soavam para ela como obrigações, meu enorme carinho era visto como insuficiente, minha atenção era irrisória perto de tudo que ela queria expôr-me. Eu não era a mesma pessoa para Dorotéia.

Passou a cobrar-me onipresença. Ela queria que eu resolvesse todas as sua angústias e dores e, quando eu tentava, ela se negava a aceitar. Virara uma vítima (ou será que sempre foi e eu nunca reparei) que precisava ser resgatada a toda hora, mas meus esforços não eram suficientes.

Isso me cansou! eu não sabia o que fazer, eu não podia fazer! Eu não era onipotente - isso me frustrava. Dorotéia me fazia ver, constantemente, que não eu não podia, que eu não conseguia fazer tudo ser perfeito. Pior! Dorotéia não reconhecia meu amor por ela e isso me doeu...

Quando, um dia, numa dessas noitadas paulistanas regadas a muito vinho, ela, muito nervosa, me disse que eu não tinha amor, que eu não me importava com os problemas dela, que eu não tinha solidariedade com ela, isso me machucou...

Como alguém poderia ter tamanha ingratidão? como duvidar do meu amor? será que vão acreditar nisso? será que é isso que me dói? o fato das pessoas terem a mesmo impressão de mim? Dorotéia me fez infeliz naquela noite.

O rancor tomou conta de mim! não podia perdoar Dorotéia! Ela era injusta, dissimulada! Agora eu a odiava (mas não me atraveria a dizer isso em voz alta). Dorotéia me fazia enxergar o que eu não queria ver: que não era tão forte e inabalável quanto pensava. Ele me mostrava que eu não havia atingido a perfeição, pelo contrário! estava longe disso. Ela fez com que aparecesse em meu rosto, diante dos olhos de quem quisesse ver, as minhas falhas, minhas limitações, minha fragilidade.Pior! ela não só as mostrou como me levou a pensar que essas falhas poderiam fazer com que as pessoas se afastassem de mim. Como eu a odeio por isso!!!

Passou-se o tempo. Dorotéia, então, me pede perdão. Na verdade, ela não me pediu perdão. Ela apenas discorreu por horas e horas os motivos pelos quais a levaram a ter a reação que tivera. Eu a ouvi e a perdoei. Mesmo ela não tendo me pedido perdão. Mesmo ela não tendo me dito que se arrependeu. Era apenas uma justificativa, cheia de emoções que tinham a ver com ela, mas que não falava do outro, não falava de mim.

Acho que Dorotéia tentou me convencer que por ela ter sofrido tanto em sua infância, ter passado por situações tão complicadas, ela reagira mal comigo nos últimos tempos. Mais do que isso! quis me mostrar que eu deveria absolvê-la, pois senão, eu seria tudo aquilo que ela disse para nosso colega naquela noite: ela, uma vítima e eu, um vilão.

Dorotéia me impôs o meu perdão e eu, como sempre tive medo de me reconhecer como vilão, a perdoei. Ela sabia disso, eu é que não sabia...

Eu não tinha o mesmo lugar na vida de Dorotéia, ela também não tinha mais na minha. Isso deveria pôr fim a nossa relação. Poderíamos ter começado outra, mais amigável, respeitosa. Podia. Mas eu me incomodava com a presença dela e, acredito, que incomodava a minha presença para ela. Triste ver como se caminharam as coisas. Éramos unha e carne, almas gêmeas, agora não suportávamos estar no mesmo espaço.

Meses depois, já não guardava tanto rancor por Dorotéia, estava em outra! me preocupava com outras coisas. Ela já não tinha grande peso na minha vida, não me abalava vê-la. Mas Dorotéia não pensava do mesmo jeito que eu. Continuava a querer rivalizar comigo e quis, novamente, impôr sua presença na minha vida! Como eu a odeio por isso!

Dorotéia passara dos limites! Ela me fez enxergar o que era insuportável para mim. Aquilo que durante toda a minha vida eu lutei para não ver. Dorotéia me colocara de fora da vida que eu havia construído para mim. Me fez assistir o que é está de fora de onde eu mais desejava estar e se colocou nesse lugar que era meu por direito. Dorotéia me humilhou e eu a odeio por isso!

Meu ódio não cabia em mim! Eu precisava descarregá-la em alguma coisa, em algum lugar, em alguém. Eu queria que ela morresse, eu queria pisar em cima do seu rosto e deformá-lo, eu queria arrancar seus cabelos e humilhá-la como ela me humilhou! Eu queria, ah! como queria...

Meu mundo se ruiu por culpa de Dorotéia, eu não sabia para onde ir, o que fazer. Eu só podia esperar, esperar a dor e o ódio passarem para reorganizar a minha vida e resignificá-la.

Anos depois, não posso lhes dizer que meu ódio por Dorotéia desapareceu por completo. Como poderia ser? não é fácil deixar de odiar alguém que provoca tantas inquietações e desamparo. Não é fácil esquecer que ela me fizera ver o que mais me apavora. Não é fácil e por isso eu quis matá-la. As vezes acho que ainda quero...

Por não poder matá-la sem que me julguem e/ou condene meu ato de brutalidade, resolvi escrever para poder liberar a raiva e o desejo de tirar a vida de Dorotéia. Isso me ajuda a experimentar - pelo menos em fantasia - um mundo sem Dorotéia.

É isso! Dorotéia agora está morta, atingida por um raio na rua Augusta, (bem próximo do cruzamento com a avenida Paulista) que a partiu no meio. E, de onde jorrou toda perversidade que habitava seu interior, brotou capim, daqueles que crescem no cimento, pois não poderia nascer nada de poético de um ser tão repugnante...

É, agora a vida voltou a ser bela!!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

à espera do retorno

Olha o relógio, vê às horas e calcula o tempo da chegada. As unhas ainda estão feitas, mas não por muito tempo. As pernas se movem, como se tivessem vida própria, como se toda a ansiedade de um ser  não coubesse em seu pequeno corpo e precisasse escapar por esse gesto que lhe é tão característico.

Ele chega e ela experimenta (mais uma vez) uma sensação inovadora, de plenitude, de agitação e tranquilidade. Sim, o mundo podia acabar agora.

Seus olhares a atravessam, como se ele pudesse ler toda sua mente, e isso a deixava envergonhada. Era tão nítido seus pensamentos como a água de um riacho!

As conversas eram poéticas, seu trabalho, suas raivas e paixões, sua piadas sem graças a conduziam para um mundo de fantasias e planos melimetricamente traçados. Sua racionalidade e suas emoções caminhavam juntas como peças de um quebra-cabeça que se completam e formam um desenho harmonioso.

O silêncio era mais poético ainda! Não havia o que dizer, só havia o olhar, que dizia tudo. Que dizia, por outras formas, que não havia falta, mas logo haveria...

Olha o relógio, vê as horas e calcula o tempo. Ela agora organiza a despedida e o fato de que vai ficar sem o olhar. A dor acompanha esse momento, assim como a sensação de não saber. Não haveria de ser diferente, já que ela rompera com o mundo, queimara seus navios...

Agora ela o vê atravessar o portão 7. Ele a olha também. não há o que dizer, somente o que já havia sido dito em outros momentos sem precisar de palavras. A dor é inevitável, e, de repente a única sensação que ela consegue ter.

Ela prefere virar-se e sair antes da partida - não poderia existir maior dor que esta! Entra em seu carro, limpa os olhos umidecidos, pensa nos olhares, nas conversas, no silêncio e sorri. Ela tinha um motivo pra viver. Ela tinha milhares de motivos pra viver! Ela agora sai do estacionamento, pensa nas tarefas da semana e caminha em frente pra sentir saudade...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como pintar uma parede

Dentro de um  quarto vazio pode-se enxergar várias coisas...
É incrível como as coisas são. Planejei tanto o dia que eu e minhas amigas faríamos um encontro para pintarmos meu quarto. Imaginei tanto como seria! As risadas, a coletividade, as histórias do passado, memórias... Tudo junto!
Mas veio o primeiro impacto: o sumiço dos pincéis! Ai, que nervoso!!!! Tive de buscá-los na casa de uma outra amiga que levara, por engano, quando fora em casa buscar uns móveis. O resultado foi a soma de mais uma integrante para o tão aguardado dia de pintarmos meu quarto. Essa amiga, de outros tempos, de outras experiências, talvez atrapalhasse o sonho, a fantasia  desse esperado dia. Afinal, era uma outra turma a qual eu pertencia, dentre outras construídas em outros tempos  e experiências com outras turmas que eu fazia parte.
O segundo impacto: a constatação de que não planejáramos direito. Lixamos a parede de qualquer jeito, não separamos muitos jornais e plásticos para não sujarmos de tinta e muito pó o quarto, quase não diluímos água na tinta pra pintar a parede...  Passado esses probleminhas técnicos, cada uma pintou anarquicamente um pedaço da parede! Uma pintava de um lado, outra pintava do outro, outra pintava paredes erradas, a roupa!. Nada de lembranças, nada de coletividade, nada de histórias do passado. Mas havia animação.
A pausa: eu com três amigas sentadas no chão do quarto para esperar a tinta secar e descansarmos um pouco (eu com duas amigas “relaxávamos” mais que uma). Logo as risadas surgiram, as lembranças do que fazia as três amigas rirem junto, e que, ao mesmo tempo, somavam com a quarta amiga. ‘Ju, lembra daquela: “sulferino!! Menino ignorante!!” rs’. Houve discussões de opinião. 'não acho que essas mulheres são tão fúteis assim, elas são mais que isso...'.
A ansiedade de pintarmos tomou conta. ‘Vamos terminar logo!’ ‘Vai ficar lindo!’ Logo, a merda: várias manchas brancas na parede, tinta manchando o rodapé da parede, jornais voando (porque esquecêramos de fechar a janela). Não tinha ficado legal . Na verdade não ficou nada legal!!! Nesse momento não houve histórias do passado, memórias, risadas, coletividade. Pelo contrário! Houve duas amigas que tinham outros compromissos e outras duas tentando pensar num compromisso. Mas nenhum compromisso com a continuidade da fantasia.
No dia seguinte tinha eu, somente eu  num quarto mal pintado, sujo, tentando descobrir o que podia  ter dado errado. Óbvio que a parede foi onde deslocou-se a frustração de um dia tão idealizado, mas que não fora concretizado. Mas por que as coisas não saíram como eu desejei? O que eu poderia fazer  para transformar a frustração em alvo positivo? Só tinha uma coisa a fazer! Vou pintar sozinha.
A primeira tentativa deu um certo medo. “Não consigo abrir a lata? E agora? Pedir pro ‘empiastro’ que mora comigo não adianta! Ele não consegue nem pendurar roupa no varal. Não, vai que dá! Vai dar... Deu!” Abri a lata de tinta sozinha! Minha primeira grande conquista do dia. Bom, eu já poderia ficar com menos mal-humor provocado pelo dia anterior.
Assisti ao vídeo ‘Como pintar uma parede’ e vi que nem de longe eu tinha me preparado para pintar a parede do meu quarto. Eu tinha comprado as tintas e os pincéis, peças fundamentais para uma pintura, mas não sabia como me organizar para que a utilização desses materiais fossem devidamente aplicados.  Somente havia pensado nos materiais e no resultado. Será que foi isso que fiz com relação a idealização do grandioso dia da pintura? Será que pensei no “equipamento” e no “resultado”? Eu queria me divertir, queria fazer uma coisa divertida. Veio a idéia de pintar o quarto. Quem são as melhores pessoas que conheço pra me divertir? Óbvio que os nomes surgiram rapidamente e, por isso, logo foi feito o convite e, em seguida, a confirmação deste.
Bom, então é uma bobagem eu me frustrar com minhas amigas, pois, não rolou lembranças do passado, ou a coletividade que eu imaginara. Contudo, houve a inauguração de uma nova fase da nossa amizade, uma amizade que define e se redefine a cada instante, a cada momento das nossas vidas.
Chegado a essa conclusão, passo agora para a pintura das paredes brancas. Tentativas que pareciam não estar dando certo. Parece que eu não sei fazer nada direito! Ah, mas peraí, se eu fizer desse jeito, vai dar certo! Está dando certo! Agora só faltam três paredes. Como eu sou boba! Por que achei não conseguiria?
É mais fácil sentir-se segura quando um projeto é desenvolvido em grupo, já que há sempre alguém que sabe mais, ou tem alguma experiência no assunto, do que fazer sozinha, sem saber ou ter alguma experiência. Claro que saber e obter experiência sempre tem um ponto de partida. Acho que hoje dei um pontapé inicial! Pelo menos com relação à pintura. Deve ser esse meu problema! Eu tenho medo de tomar iniciativas e aprender com isso. Que engraçado! Saber disso, me fez querer romper com tantas das minhas limitações...
Fim do dia: não é que ficaram massa as paredes brancas? E a lilás não está tão ruim assim, só precisa de mais uma ou duas demãos. Bom, amanhã minha amiga vem me ajudar de novo, vou tratar de pensar uma estratégia para que agora dê certo!.
Terceiro dia de pintura: já vou adiantando as coisas, passar a segunda demão nas paredes brancas pra dar tempo da minha amiga chegar e já estarem seca. Depois irei comprar mais tinta para terminar a lilás, colocarei fita adesiva nas brancas para não ter perigo de manchá-las de lilás e verificarei se ainda têm plásticos e jornais suficientes para forrar o chão.
 Ao som de vários artistas, a tarefas foram sendo feitas. A combinação disso foi lembranças de outras épocas, elucubrações sobre assuntos que iam da política à psicanálise, passando por programas infantis, comentados pelas amigas no fatídico dia da pintura. É, foi divertido pintar com as meninas, e eu queria reviver memórias. posso fazer isso sozinha, não preciso delas pra isso! Preciso delas para outras coisas... Só me resta aguardar minha amiga.
Ela chegou e logo compartilhamos opiniões sobre o nosso encontro e como poderíamos melhorá-lo (notem que não pensamos no que deu errado!) e montamos nossa estratégia de pintura. Executamos a tarefa enquanto contávamos o que acontecera no resto de final de semana do dia da pintura. Foi um trabalho que levou mais dois dias de mais demãos e a excelente faxina que fizemos depois de executarmos toda tarefa. Acho que nunca fiz uma limpeza com tanta dedicação! (ai, se minha mãe sabe disso...) foi bom poder fazer tudo isso em companhia de alguém tão especial. Era bom saber que eu podia contar com ela pra ter projetos comuns.
Era bom saber que podia contar com todas elas. Contar em situações diferentes e comuns. Era bom saber que elas vibrariam com meu sucesso pessoal e compartilhariam sucessos comigo. Mas o mais importante é que podíamos dividir o mesmo sonho, a mesma fantasia e alcançá-los de formas distintas. Afinal, as amizades mudam, as turmas se formam, se desfazem, se refazem. Nós não éramos as mesmas, não estávamos fazendo as mesmas coisas, não pensávamos exatamente igual, porém, estávamos todas atravessando a mesma situação: a de parar de ficar apenas sonhando com nosso futuro, mas ir atrás para realizá-lo. E era esse momento que nos unia e fortalecia de uma outra forma nossa relação. No final das contas, o tão fantasiado dia da pintura, sem dúvida, não saiu como queria, mas, definitivamente, resignificou um dia para algo para além das minhas expectativas...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A house doens't make a home

Uma ideia lógica  (já que se amavam).
Um planejamento simples.
A contagem regressiva.

A anunciação.
Os mil projetos (todos pefeitos).
A expectativa do dia chegar.

O grande dia!
A mudança.
Muita alegria e mais expectativas.

A realidade.
O primeiro problema.
O não acolhimento.

O tempo.
A reaproximação.
Mais tempo.

As prioridades de um.
As demandas do outro.
O não dito.

As escolhas de um.
A espera do outro.
O não dito.

A vida intensa de um.
A solidão do outro.
O não dito.

O pedido sútil de ajuda de um.
O não se importar do outro.
Desilusão.

A tentativa de se desculpar de um.
A tentaiva de desculpar do outro.
Ilusão.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

inferno astral

- angústia

a única coisa que ela pode sentir hoje;

- sensação de não pertencimento a esse lugar

a consequência que ela chegará;

- falta de perspectiva

pois está mergulhada na sua tragédia pessoal;

- choro

inevitável...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Julgamento, julgar, ser julgada...

Assisti na semana passada um filme bem bacana chamado 12 Homens e Uma Sentença. Enredo básico: após ouvirem a promotoria e a defesa, 12 jurados devem decidir se um jovem é culpado do assassinato de seu pai, sob pena de morte.
No começo, onze jurados afirmam que o garoto é culpado, enquanto um ainda tem dúvidas sobre sua inocência. A partir disso, esse jurado decide analisar novamente os fatos, o que significa enfrentar, não apenas as diversas interpretações para o fato, mas os valores de cada um.
Fiquei pensando muito sobre o trabalho que esse jurado teve. O mais difícil não é argumentar em cima de um fato, mas se despir de seus valores e compreender que as coisas não acontecem ou são motivadas sob nossa forma de pensar. É mais fácil classificar as pessoas de marginais, maconheiras, preguiçosas, vadias do que gastar alguns minutos pra compreender os reais motivos para que uma pessoa tenha uma ação condenável.
Todo mundo julga! todo mundo é julgado/a. Todos e todas tem atitudes que outras pessoas condenam, acham errado, se indignam! O problema, talvez, seja a consequência desse julgamento na vida de cada um: de quem julga e de quem é julgado/a.
As vezes é somente aqueles comentários do tipo "você viu o que fulano/a fez?", "que absurdo!" "eu nunca faria uma coisa dessas" e nada muda. Outras vezes, o julgamento trás muito rancor, raiva e vontade de liberarmos nosso lado mais sádico contra aquele que está sendo julgado/a. Enxerga-se apenas por um ângulo. O ângulo mais restrito, aquele olhar que tem a ver apenas com os próprios valores, a própria formação, a própria moral e, por que não dizer?, com a própria recalque. O resultado disso é tirar conclusões precipitadas e, muitas vezes, condenar alguém de forma indevida, gerando um ciclo de ódio e intolerância cada vez mais nocivos à vida cotidiana.
Não quero dizer com isso que, basta sabermos a história de vida das pessoas, para absolvê-las das coisas erradas que fazem. Pelo contrário! Muitas vezes mantemos nossa posição e nosso julgamento sobre um acontecimento. Porém, acredito que se pudéssemos (e, claro que, muitas vezes, não dá pra fazer isso no exato momento em que acontece uma ação que condenamos) nos envolvermos mais, analisar os fatos, não sentiríamos tanto rancor, ou tanto ódio que sempre nos faz tão mal.
Entender os motivos pelos quais alguém tem certa conduta que questionamos não é um exercício de bom samaritano, mais de qualquer pessoa que queira contruir uma sociedade mais saudável, menos rancorosa e livre de preconceitos.