segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como pintar uma parede

Dentro de um  quarto vazio pode-se enxergar várias coisas...
É incrível como as coisas são. Planejei tanto o dia que eu e minhas amigas faríamos um encontro para pintarmos meu quarto. Imaginei tanto como seria! As risadas, a coletividade, as histórias do passado, memórias... Tudo junto!
Mas veio o primeiro impacto: o sumiço dos pincéis! Ai, que nervoso!!!! Tive de buscá-los na casa de uma outra amiga que levara, por engano, quando fora em casa buscar uns móveis. O resultado foi a soma de mais uma integrante para o tão aguardado dia de pintarmos meu quarto. Essa amiga, de outros tempos, de outras experiências, talvez atrapalhasse o sonho, a fantasia  desse esperado dia. Afinal, era uma outra turma a qual eu pertencia, dentre outras construídas em outros tempos  e experiências com outras turmas que eu fazia parte.
O segundo impacto: a constatação de que não planejáramos direito. Lixamos a parede de qualquer jeito, não separamos muitos jornais e plásticos para não sujarmos de tinta e muito pó o quarto, quase não diluímos água na tinta pra pintar a parede...  Passado esses probleminhas técnicos, cada uma pintou anarquicamente um pedaço da parede! Uma pintava de um lado, outra pintava do outro, outra pintava paredes erradas, a roupa!. Nada de lembranças, nada de coletividade, nada de histórias do passado. Mas havia animação.
A pausa: eu com três amigas sentadas no chão do quarto para esperar a tinta secar e descansarmos um pouco (eu com duas amigas “relaxávamos” mais que uma). Logo as risadas surgiram, as lembranças do que fazia as três amigas rirem junto, e que, ao mesmo tempo, somavam com a quarta amiga. ‘Ju, lembra daquela: “sulferino!! Menino ignorante!!” rs’. Houve discussões de opinião. 'não acho que essas mulheres são tão fúteis assim, elas são mais que isso...'.
A ansiedade de pintarmos tomou conta. ‘Vamos terminar logo!’ ‘Vai ficar lindo!’ Logo, a merda: várias manchas brancas na parede, tinta manchando o rodapé da parede, jornais voando (porque esquecêramos de fechar a janela). Não tinha ficado legal . Na verdade não ficou nada legal!!! Nesse momento não houve histórias do passado, memórias, risadas, coletividade. Pelo contrário! Houve duas amigas que tinham outros compromissos e outras duas tentando pensar num compromisso. Mas nenhum compromisso com a continuidade da fantasia.
No dia seguinte tinha eu, somente eu  num quarto mal pintado, sujo, tentando descobrir o que podia  ter dado errado. Óbvio que a parede foi onde deslocou-se a frustração de um dia tão idealizado, mas que não fora concretizado. Mas por que as coisas não saíram como eu desejei? O que eu poderia fazer  para transformar a frustração em alvo positivo? Só tinha uma coisa a fazer! Vou pintar sozinha.
A primeira tentativa deu um certo medo. “Não consigo abrir a lata? E agora? Pedir pro ‘empiastro’ que mora comigo não adianta! Ele não consegue nem pendurar roupa no varal. Não, vai que dá! Vai dar... Deu!” Abri a lata de tinta sozinha! Minha primeira grande conquista do dia. Bom, eu já poderia ficar com menos mal-humor provocado pelo dia anterior.
Assisti ao vídeo ‘Como pintar uma parede’ e vi que nem de longe eu tinha me preparado para pintar a parede do meu quarto. Eu tinha comprado as tintas e os pincéis, peças fundamentais para uma pintura, mas não sabia como me organizar para que a utilização desses materiais fossem devidamente aplicados.  Somente havia pensado nos materiais e no resultado. Será que foi isso que fiz com relação a idealização do grandioso dia da pintura? Será que pensei no “equipamento” e no “resultado”? Eu queria me divertir, queria fazer uma coisa divertida. Veio a idéia de pintar o quarto. Quem são as melhores pessoas que conheço pra me divertir? Óbvio que os nomes surgiram rapidamente e, por isso, logo foi feito o convite e, em seguida, a confirmação deste.
Bom, então é uma bobagem eu me frustrar com minhas amigas, pois, não rolou lembranças do passado, ou a coletividade que eu imaginara. Contudo, houve a inauguração de uma nova fase da nossa amizade, uma amizade que define e se redefine a cada instante, a cada momento das nossas vidas.
Chegado a essa conclusão, passo agora para a pintura das paredes brancas. Tentativas que pareciam não estar dando certo. Parece que eu não sei fazer nada direito! Ah, mas peraí, se eu fizer desse jeito, vai dar certo! Está dando certo! Agora só faltam três paredes. Como eu sou boba! Por que achei não conseguiria?
É mais fácil sentir-se segura quando um projeto é desenvolvido em grupo, já que há sempre alguém que sabe mais, ou tem alguma experiência no assunto, do que fazer sozinha, sem saber ou ter alguma experiência. Claro que saber e obter experiência sempre tem um ponto de partida. Acho que hoje dei um pontapé inicial! Pelo menos com relação à pintura. Deve ser esse meu problema! Eu tenho medo de tomar iniciativas e aprender com isso. Que engraçado! Saber disso, me fez querer romper com tantas das minhas limitações...
Fim do dia: não é que ficaram massa as paredes brancas? E a lilás não está tão ruim assim, só precisa de mais uma ou duas demãos. Bom, amanhã minha amiga vem me ajudar de novo, vou tratar de pensar uma estratégia para que agora dê certo!.
Terceiro dia de pintura: já vou adiantando as coisas, passar a segunda demão nas paredes brancas pra dar tempo da minha amiga chegar e já estarem seca. Depois irei comprar mais tinta para terminar a lilás, colocarei fita adesiva nas brancas para não ter perigo de manchá-las de lilás e verificarei se ainda têm plásticos e jornais suficientes para forrar o chão.
 Ao som de vários artistas, a tarefas foram sendo feitas. A combinação disso foi lembranças de outras épocas, elucubrações sobre assuntos que iam da política à psicanálise, passando por programas infantis, comentados pelas amigas no fatídico dia da pintura. É, foi divertido pintar com as meninas, e eu queria reviver memórias. posso fazer isso sozinha, não preciso delas pra isso! Preciso delas para outras coisas... Só me resta aguardar minha amiga.
Ela chegou e logo compartilhamos opiniões sobre o nosso encontro e como poderíamos melhorá-lo (notem que não pensamos no que deu errado!) e montamos nossa estratégia de pintura. Executamos a tarefa enquanto contávamos o que acontecera no resto de final de semana do dia da pintura. Foi um trabalho que levou mais dois dias de mais demãos e a excelente faxina que fizemos depois de executarmos toda tarefa. Acho que nunca fiz uma limpeza com tanta dedicação! (ai, se minha mãe sabe disso...) foi bom poder fazer tudo isso em companhia de alguém tão especial. Era bom saber que eu podia contar com ela pra ter projetos comuns.
Era bom saber que podia contar com todas elas. Contar em situações diferentes e comuns. Era bom saber que elas vibrariam com meu sucesso pessoal e compartilhariam sucessos comigo. Mas o mais importante é que podíamos dividir o mesmo sonho, a mesma fantasia e alcançá-los de formas distintas. Afinal, as amizades mudam, as turmas se formam, se desfazem, se refazem. Nós não éramos as mesmas, não estávamos fazendo as mesmas coisas, não pensávamos exatamente igual, porém, estávamos todas atravessando a mesma situação: a de parar de ficar apenas sonhando com nosso futuro, mas ir atrás para realizá-lo. E era esse momento que nos unia e fortalecia de uma outra forma nossa relação. No final das contas, o tão fantasiado dia da pintura, sem dúvida, não saiu como queria, mas, definitivamente, resignificou um dia para algo para além das minhas expectativas...

Um comentário:

  1. suas amigas anarquistas de paredes deveriam mesmo era ter assistido no youtube "como pintar uma parede"... tb deveriam ter pensado que vc andava dizendo por tuas entrelinhas: a house doesn't make a home, e o momento de pintar a parede era mais o momento de sentir aquela liga que as une e faz da sua casa, de fato, um delicioso lar...
    vc sempre pode pintar paredes sozinha! (definitivamente, deve sair melhor, como vc mesma constatou ).
    E vc sempre pode ligar manhosa e pedir um momento de intimidade e fraternidade pras suas amigas , e se eles ficam mais raros ao longo do tempo (esse tempo que nao para), e se suas amigas ficam as vezes mais surdas pra esses pedidos, no corpo eles sao atemporais (e fazem ruídos). a amizade forte acompanha, mesmo que por vezes aos tropeços, o nosso futuro, e que bom que nos leva além das expectativas.... beijo

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