segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ela me sacou

Ela me ignora
Ela me persegue
Ela me confunde
Ela me enfoca
Ela me sufoca
Ela me vê nu
Ela me vê sem máscaras
Ela me enfraquece
Ela me potencializa
Ela me deixa dúvidas
Ela me dá certezas
Ela me deixa perdido
Ela me encontrou
Ela me faz esquecer
Ela me faz lembrar
Ela me angustia
Ela me tranquiliza
Ela me escraviza
Ela me liberta
Ela foge
Ela me persegue
Ela me odeia
Ela me ama
Ela me saca...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Sem Sentido.

Não há fórmula, não há esquemas. Não tem fluxograma que pode definir toda jornada. Mas, assim seria mais fácil... bem mais fácil! As comparações a diminuíam, como se não ser igual, ou pensar de outra forma era indícios de inferioridade. Por isso ela não pensava, não tinha opinião. Estava num ponto da vida em que seus desejos foram realizados. Aquilo que durante anos ela sonhou, almejou agora a pertencia, mas isso não bastava. Não bastava. O que mais pode ela querer da vida? O que a deixava insatisfeita? Por que seu olhar só enxergava desdém e desânimo? Ela que sempre foi tão amada, de repente entendia esse amor como insuficiente. Ela que sempre foi cheia de amizades, sentia-se só no meio de todos os seus amigos. De repente, ela achava que todas as pessoas ao seu redor eram melhor que ela. Ela queria viver intensamente, queria sentir tudo! Mas tinha medo. Não sabia como. Talvez mudar de ares, mudar de profissão, mudar de amizades, mudar. Não era uma palavra inspiradora, mas uma palavra de resignação. Não via a mudança como algo positivo, mas como uma denúncia de que sua escolhas fracassaram – ela sentia-se como uma fracassada. Então se apegava ao que tinha, mas não tinha. Tinha, mas não tinha nada...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um lugar

Onde?
é dificil localizar.

 Penso que se soubessemos onde fica metade dos nosso problemas estariam resolvidos. Se tivessemos alguma ideia já ajudaria a seguir adiante. Mas e quando não se sabe? Pior! quando a gente acha que sabe e descobre que não era?

 As vezes acho que a sensação de estar perdido angustia mais do que qualquer outra coisa. Ora que fazer quando não se sabe pra onde se vai? Qual é o lugar que pertencemos? As pessoas lutam cotidianamente para ter um lugar, para sentir-se pertencentes a um lugar. Porém, há situações que colocam a prova o fato de se ter certeza de que  o encontramos e que nos estabelecemos nele.

 Veja o caso da garota que lutou a vida toda para achar o seu e, quando finalmente o encontrou, algo a fez crer que não pertencia mais àquele lugar. Ela se doeu. Se doeu porque achava que a tinham tirado do seu lugar, forçado ela a sair. Mas isso era bobagem! Ninguém pode fazer isso, a não ser que ela não lutasse para continuar lá.

 Bom, ela fazia essa avaliação. Mas também avaliava que já estava esgotada de brigar para se manter nele. O tempo passa e a vida muda e conhecemos outros lugares. Quem disse que as pessoas são o que elas escolhem estava certo.  Acredito que a dificuldade dela não era achar ou estar num lugar, mas se manter nele e encontrar outros. Era como se ela, a duras penas, encontrasse, se estabelecia, mas que não cuidava (sim! é preciso cuidar do lugar que se está).

 Ela me dizia que  só queria sentir que desejava estar num lugar tanto quanto esse gostaria de ser ocupado por ela. Me lembro que ela chorou quando disse isso. Consigo imaginar sua dor. Não acredito que possa haver dor maior que aquela que não pode ser reconhecida. Ela também não acreditava. Acho que foi por isso que ela chorou.

 O que se pode fazer nessa situação? abandonar tudo e partir pra procurar outros em que ela possa se estabelecer? - talvez acontecesse a mesma coisa que aconteceu nessa situação que narrei a pouco. -Lutar pra voltar ao lugar que lhe era de direito? - Não sei se ela teria forças para brigar por isso.

 Talvez ela não queira estar mais nesse lugar, mas tenha medo de admitir, pois isso sim a deixaria perdida. Não sei... Lugares não são, assim, tão descartáveis. Deixam marcas. Dizem quem a gente é.

 Me veio a cabeça uma frase: "vou me encontrar longe do meu lugar". É exatamente disso que ela precisa!!! se encontrar! Porque senão todos os lugares serão descartáveis e ela será descartável.

 Devo confessar que me dói saber que ninguém enxerga isso nela. Nem mesmo eu.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

o que resta?

 Pode-se dizer que ele estava perdido. Eu disse pode-se dizer. O fato é que ele se encontrava sentado no chão de sua sala, onde tinha apenas um velho sofá e uma tv em cima de dúzias de livros que nunca chegara a ler.

Roia as unhas. Pensava e agora? o que me resta? Ele que havia lutado por muito tempo para não se fazer essa pergunta. Se negava a responder, isso o obrigaria a rever tudo em sua vida, o que tinha pensado para sua vida e o que significava tudo aquilo para ele.

Não, ele não ia responder. Ele somente deixaria as coisas fluirem, seguirem seu caminho natural, sem que ele fizesse escolhas, sem que ele tomasse posições, sem que ele protagonizasse sua própria vida. Se perguntar sobre os caminhos era reconhecer que talvez sua vida não estivesse no seu controle. Faria com que ele revisse suas crenças, seus ideais, seu sonhos...

Ele que abdicara de sua familia para viver algo extraordinário, mas tão extraordinario que manter laços estreitos com seus familiares, significaria não poder ir mais além. Ele que achava fantástico mudar o grupo de amizades, pois as pessoas o cansavam, já que em algum momento sempre demandavam mais do que ele poderia dar (ou será o contrário?).

Agora estava sentado, encostado na parede, roendo as unhas. Mas não ia chorar! Isso nunca ajudou ninguém em nada! As vezes batia com sua cabeça na parede, como se por algum milagre sua cabeça rachasse e saisse pela rachadura todos os pensamentos que o atormentavam.

Fazendo um pequeno flashback de suas últimas experiências mostrava que ele era demasiadamente inseguro. Inseguro. E por isso que ele não ousaria perguntar novamente; "o que resta?"

sábado, 2 de julho de 2011

O que deseja uma mulher?

Ouvi um caso em que uma analista que tratava uma mulher de 35 anos, bem sucedida na carreira, que enfrentava uma crise financeira e estava a beira de uma crise profunda. Ela tentava sair dessa situação, mas não sabia bem por onde.
Eis que em uma das sessões, ela se vira para a paciente e questiona se ela não pensava em casar ter filhos, ao que a paciente responde de forma agressiva, chamando-a de preconceituosa e afirmando que o desejo da mulher não era somente de casar e ter filhos. A analista, então, pergunta: então, o que deseja uma mulher? A paciente encerra a sessão concordando que talvez o casamento e a maternidade poderiam ser o que uma mulher deseja.
Qual a dimensão disso? Qual impacto dessa afirmação na vida das mulheres? Estamos reduzidas a isso? Será que depois de casarmos e termos filhos não há mais nada? não há desejo?
Tudo que li sobre desejo na psicanálise me leva a crer que ele só aparece quando se reconhece uma falta. Todo mundo tem desejo, mas deixá-lo emergir não é tão simples assim... É preciso assumir que não somos perfeitos/as. Ora, se é isso, eu não posso me conformar com o fato de estar casada com filhos, porque, se for assim, depois de realizar esse desejo (quase que instintual),o resto da minha vida não terá mais sentido.
Não quero dizer com isso que desejar essas coisas é diminuto, mas sim que uma mulher pode querer mais, inclusive não querer nada disso. A questão posta pela analista pode parecer, num primeiro momento, querer legitimar o lugar das mulheres como esposas e mães, mas pra mim vai muito mais além...
Abre a possibilidade de questionar se é esse lugar que uma mulher quer estar. Bem, eu conheço uma porção delas que não pensam dessa forma. Se o que é esperado de uma mulher, na nossa sociedade, é necessariamente o único destino e a única felicidade garantida que ela terá, o que pensar dessas tantas outras que não querem essa vida, ou que, simplesmente, tem dúvidas sobre esse "destino"?
É evidente que o caminho mais fácil seria não pensar sobre isso e corresponder a demanda social, como também, uma vez não tendo se casado ou com filhos, ser fácil responder ao sofrimento causado pela angústia de uma mulher: bastaria dizer a ela para se entregar aos laços matrimoniais e se responsabilizar com a reprodução da espécie.
Nada romântico colocar nesses termos, mas acredito que faz parte da escolha individual compreender os fatos e significá-los de forma mais abrangente. Se alguém pode pensar que se unir a um homem e fazer um ritual que entenda essa união como sagrada (poética para alguns) e dessa união surgir uma criança que vai simbolizar todo amor que se há na vida, eu também posso pensar de outra forma. Posso pensar que casamento e constituir familia é uma norma burguesa que serve para sustentar o capitalismo.
A questão não é essa. Não estou preocupada em definir o lugar do casamento e da maternidade na vida das mulheres. Estou apenas refletindo sobre se é possivel afirmar que o desejo da mulher é tão simples de se descrever. Acredito que não. Me convenci de que se manter numa posição desejante é essencial para se viver. Isso significa afirmar que na minha vida, tenho outras possibilidades
O sentimento de incompletude é tão angustiante quanto excitante do ponto de vista de correr atrás para obter o seu contrário (mesmo quando haja dúvidas quanto ao que nos completa). Poder se deparar com um demanda realizada e perceber que não é o bastante nos leva a acreditar que vale a pena estar nesse mundo lutando por conquistas, mesmo que elas demorem para acontecer ou que tenha que se percorrer um caminha árduo. Isso que significa desejar.
Acho que no fundo o que eu tento dizer aqui é que desejar a liberdade de desejar é condição primordial para nós mulheres, pois pra nós isso ainda é uma luta que travamos todos os dias. Ninguém deveria nos dizer o que desejar, mas sim que desejemos! Não importa qual seja o desejo, não importa se não temos certeza de qual seria esse desejo...

sábado, 30 de abril de 2011

A morte de Dorotéia

Uma vez me disseram que escrever era bom. Podia-se fazer tudo com o ato de escrever: criar histórias, expressar uma opinião, defender uma posição. Mas o que mais me intrigou foi o fato dessa pessoa me dizer que se eu quisesse, em minha história, eu poderia até matar alguém. E não é que é verdade! Eu posso matar alguém em minhas histórias.

Queria matar Dorotéia. Queria que ela sofresse toda dor que me fez sentir. Eu que a amava, eu que a amava... Amava tanto quanto uma criança ama seu cobertor, cuidando e o mantendo por perto todo o tempo. E quando tinha de se separar era sempre uma agonia.

Era assim meu amor por Dorotéia. Eu queria cuidar dela, queria que ela fosse poupada de todos os males do mundo. Queria que ela ficasse ao meu lado em todos os momentos e, como se não bastasse, eu agia de forma que ela nunca tivesse dúvidas do quanto eu a amava.

Mas isso não bastou para Dorotéia, ela a quem dediquei minha devoção. De repente, minhas gentilezas soavam para ela como obrigações, meu enorme carinho era visto como insuficiente, minha atenção era irrisória perto de tudo que ela queria expôr-me. Eu não era a mesma pessoa para Dorotéia.

Passou a cobrar-me onipresença. Ela queria que eu resolvesse todas as sua angústias e dores e, quando eu tentava, ela se negava a aceitar. Virara uma vítima (ou será que sempre foi e eu nunca reparei) que precisava ser resgatada a toda hora, mas meus esforços não eram suficientes.

Isso me cansou! eu não sabia o que fazer, eu não podia fazer! Eu não era onipotente - isso me frustrava. Dorotéia me fazia ver, constantemente, que não eu não podia, que eu não conseguia fazer tudo ser perfeito. Pior! Dorotéia não reconhecia meu amor por ela e isso me doeu...

Quando, um dia, numa dessas noitadas paulistanas regadas a muito vinho, ela, muito nervosa, me disse que eu não tinha amor, que eu não me importava com os problemas dela, que eu não tinha solidariedade com ela, isso me machucou...

Como alguém poderia ter tamanha ingratidão? como duvidar do meu amor? será que vão acreditar nisso? será que é isso que me dói? o fato das pessoas terem a mesmo impressão de mim? Dorotéia me fez infeliz naquela noite.

O rancor tomou conta de mim! não podia perdoar Dorotéia! Ela era injusta, dissimulada! Agora eu a odiava (mas não me atraveria a dizer isso em voz alta). Dorotéia me fazia enxergar o que eu não queria ver: que não era tão forte e inabalável quanto pensava. Ele me mostrava que eu não havia atingido a perfeição, pelo contrário! estava longe disso. Ela fez com que aparecesse em meu rosto, diante dos olhos de quem quisesse ver, as minhas falhas, minhas limitações, minha fragilidade.Pior! ela não só as mostrou como me levou a pensar que essas falhas poderiam fazer com que as pessoas se afastassem de mim. Como eu a odeio por isso!!!

Passou-se o tempo. Dorotéia, então, me pede perdão. Na verdade, ela não me pediu perdão. Ela apenas discorreu por horas e horas os motivos pelos quais a levaram a ter a reação que tivera. Eu a ouvi e a perdoei. Mesmo ela não tendo me pedido perdão. Mesmo ela não tendo me dito que se arrependeu. Era apenas uma justificativa, cheia de emoções que tinham a ver com ela, mas que não falava do outro, não falava de mim.

Acho que Dorotéia tentou me convencer que por ela ter sofrido tanto em sua infância, ter passado por situações tão complicadas, ela reagira mal comigo nos últimos tempos. Mais do que isso! quis me mostrar que eu deveria absolvê-la, pois senão, eu seria tudo aquilo que ela disse para nosso colega naquela noite: ela, uma vítima e eu, um vilão.

Dorotéia me impôs o meu perdão e eu, como sempre tive medo de me reconhecer como vilão, a perdoei. Ela sabia disso, eu é que não sabia...

Eu não tinha o mesmo lugar na vida de Dorotéia, ela também não tinha mais na minha. Isso deveria pôr fim a nossa relação. Poderíamos ter começado outra, mais amigável, respeitosa. Podia. Mas eu me incomodava com a presença dela e, acredito, que incomodava a minha presença para ela. Triste ver como se caminharam as coisas. Éramos unha e carne, almas gêmeas, agora não suportávamos estar no mesmo espaço.

Meses depois, já não guardava tanto rancor por Dorotéia, estava em outra! me preocupava com outras coisas. Ela já não tinha grande peso na minha vida, não me abalava vê-la. Mas Dorotéia não pensava do mesmo jeito que eu. Continuava a querer rivalizar comigo e quis, novamente, impôr sua presença na minha vida! Como eu a odeio por isso!

Dorotéia passara dos limites! Ela me fez enxergar o que era insuportável para mim. Aquilo que durante toda a minha vida eu lutei para não ver. Dorotéia me colocara de fora da vida que eu havia construído para mim. Me fez assistir o que é está de fora de onde eu mais desejava estar e se colocou nesse lugar que era meu por direito. Dorotéia me humilhou e eu a odeio por isso!

Meu ódio não cabia em mim! Eu precisava descarregá-la em alguma coisa, em algum lugar, em alguém. Eu queria que ela morresse, eu queria pisar em cima do seu rosto e deformá-lo, eu queria arrancar seus cabelos e humilhá-la como ela me humilhou! Eu queria, ah! como queria...

Meu mundo se ruiu por culpa de Dorotéia, eu não sabia para onde ir, o que fazer. Eu só podia esperar, esperar a dor e o ódio passarem para reorganizar a minha vida e resignificá-la.

Anos depois, não posso lhes dizer que meu ódio por Dorotéia desapareceu por completo. Como poderia ser? não é fácil deixar de odiar alguém que provoca tantas inquietações e desamparo. Não é fácil esquecer que ela me fizera ver o que mais me apavora. Não é fácil e por isso eu quis matá-la. As vezes acho que ainda quero...

Por não poder matá-la sem que me julguem e/ou condene meu ato de brutalidade, resolvi escrever para poder liberar a raiva e o desejo de tirar a vida de Dorotéia. Isso me ajuda a experimentar - pelo menos em fantasia - um mundo sem Dorotéia.

É isso! Dorotéia agora está morta, atingida por um raio na rua Augusta, (bem próximo do cruzamento com a avenida Paulista) que a partiu no meio. E, de onde jorrou toda perversidade que habitava seu interior, brotou capim, daqueles que crescem no cimento, pois não poderia nascer nada de poético de um ser tão repugnante...

É, agora a vida voltou a ser bela!!